domingo, 28 de dezembro de 2008

Domingo na vila

Insuportável o calor das quatro paredes do apartamento. Mas mais insuportável ainda é olhar pela janela (sim, o sujeito busca a janela quando já não aguenta mais a gaiola sob a qual está preso) e ver que tudo está quieto, imóvel, como naquelas cidades do Velho Oeste Americano ilustradas em filmes de "bang bang". Estou falando da região do Cedeteg e, para quem não sabe, trata-se de um campus da Unicentro que fica vazio nesta época do ano. Só não tão vazio pela presença dos vigias que circulam vez ou outra.

Mesmo que haja sol brilhando, pássaros cantando e toda aquela coisa que você só consegue reparar num domingo, é tudo muito chato. Especialmente num 28 de dezembro.

Aí resolvi arranjar um motivo pra sair da aridez. Apanho uma nota de R$ 5 e vou atrás de uma coca gelada para acompanhar uma bacia cheia de pipocas com orégano no retorno ao lar. Pelo menos assim me desintoxico do ambiente de concreto fechado tomando um pouco de ar puro.

No caminho pela vila, descubro que há sim vida na vizinhança, mesmo num fim-de-semana entre o natal e o reveillon.

Estão lá:

o sorveteiro que vende 4 "picolés de sorvete" (como ele anuncia) montado em uma bicicleta e uma caixa de som "por apenas 1 real! É isso, mesmo! Por apenas um real... real... real", lançando eco sob o quarteirão.

a família caminhando na rua, provavelmente voltando do almoço na casa da vó. E as crianças já agitadas páram o sorveteiro.

um senhor fazendo a manutenção do carro, provavelmente aprontando para aquela viagem de fim-de-ano.

pessoas olhando um imóvel pra locação e fazendo planos.

o casal que vai à padaria.

a conversa que se ouve das casas a contar ou desabafar as coisas do cotidiano.

a simplicidade do próprio sorveteiro, que encontrei no início da caminhada - boné na cabeça, botas sobre as calças (naquele calor!), pele queimada do sol. Ao se deparar com um problema na corrente da bicicleta numa esquina, se conforma: "bah, até esperar o patrão chegar, vou ouvindo uma musiquinha...", disse lançando um sorriso.

E sai um sertanejo daqueles chorosos levados ao vento numa paisagem que, aparentemente inerte, esconde muitos personagens.

Um sopro de vida dominical pra quem ousa sair de suas 4 paredes. Assim, com sabor de coca e pipoca.