quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Sugestão para fugas

Tem se tornado chato ultimamente falar de fuga de presos na província em que vivo.
Nos últimos 3 meses, 3 fugas da cadeia.
E se for contar as tentativas que os policiais acabam frustrando, a estatística já aumenta um pouco.
E olha que estava tudo tranquilo. Quando já se passava reto do fim da folha de julho para o início da de setembro, eis que surge outro episódio.
E lá vem as perguntas que estou cansado de fazer, a velha procura por novos caminhos pra tratar o assunto, que quase chegam as mesmas respostas... superlotação, falta de vagas, escassos funcionários.

Mas, por obra do acaso, encontrei esse texto do Rubem Alves que brinca com tema semelhante.

- Sugestão prática para resolver nosso problema penitenciário: Leio que o “Bóris“, criminoso da quadrilha do Andinho, fugiu da penitenciária. Parece que os criminosos fogem das penitenciárias quando querem. É claro que é preciso pôr um fim a esse estado de coisas. Aí eu tive uma idéia brilhante: é normal que os governos estabeleçam convênios de cooperação: um ajuda o outro. Acontece que a penitenciaria de Alcatraz, a mais famosa de todas, foi desativada. Ela está localizada num local aprazível, charmoso, cobiçado por turistas, uma ilha na baía de S. Francisco com vista para a Golden Gate Bridge, se não me engano. Pensei: que desperdício! Aquela fortaleza magnífica, vazia. Aí pensei que o governo brasileiro poderia fazer um convênio com o governo Bush: em troca da nossa cooperação no combate ao terrorismo, o governo americano nos alugaria Alcatraz, para o combate ao crime. Nada mais prático. Pois é certo que os criminosos se sentiriam felizes por estar num lugar tão privilegiado, tão famoso. Não quereriam fugir. Viveriam a gozar as delícias daquele condomínio cercado por mar e poderiam se dedicar a atividades que eventualmente comoveriam o seu coração e os tornariam sábios e ordeiros... É preciso notar, também, que sobre aquela região paira a possibilidade de um terremoto gigantesco que levaria tudo para o fundo do oceano.

Rubem Alves. "Quarto de Badulaques (VIII)". Correio Popular, 31 de março de 2002.

sábado, 4 de setembro de 2010

Na memória

Palavra é fugidia. O sentimento transborda, o pensamento voa na lembrança. As horas passam em recordações que avançam o silêncio da noite no encontro ao dia. O ponteiro corre diante de tantos momentos especiais para recordar.
Se ganhassem telas, as galerias seriam infinitas. Quadros pintados a múltiplas mãos em profusão de cores sem obedecer a convenções ou formas. Tinta para todos os lados. O brilho ofuscaria quem olhasse. Se assumissem a projeção de um filme, faltaria película para retratar tanta coisa. Instantes de magnífica beleza de vida, vivida intensamente. Lições de que à memória não cabe o espaço, não cabe o tempo, não há métrica que dê a medida.
Mas em toda essa imensidão, Andressa, o teu sorriso aparece em toda a parte. Com o nome de princesa que te foi dado, nada mais justo ser lembrada pela ternura do gesto mais simples e encantador. E é assim que tem acontecido nos últimos dias. Todos devem ter lembrado esse sorriso de feição angelical e um olhar diferente. Há algo de perfeição, irmã, de divino na forma com que o espalha em todas as recordações.
É difícil buscar sentido ou respostas. Mas para mim, o sorriso que aparece na memória não exige explicações. Apenas envia a mensagem de que é preciso viver com alegria e braços abertos para o mundo.



Andressa

*16/12/1988 + 31/08/2009