domingo, 14 de fevereiro de 2010

Notícias

Li este poema há pouco e acho que reflete bem o meu momento.
Os telegramas chamam para a necessidade de olhar a si mesmo.
A casa é a alma, sedenta de purificação. De uma limpeza da "caixinha de telegramas".
Ou talvez a alma seja a cidade enigmática, que me chama diante da paralisia...
Ou talvez eu esteja mais uma vez divagando, com interpretações outras de um poema.


Notícias
Carlos Drummond de Andrade


Entre mim e os mortos há o mar
e os telegramas
Há anos que nenhum navio parte
nem chega. Mas sempre os telegramas
frios, duros, sem conforto.

Na praia, e sem poder sair.
Volto, os telegramas vêm comigo.
Não se calam, a casa é pequena
para um homem e tantas notícias.

Vejo-te no escuro, cidade enigmática.
Chamas com urgência, estou paralisado.
De ti para mim, apelos,
de mim para ti, silêncio.
Mas no escuro nos visitamos.

Escuto vocês todos, irmãos sombrios.
No pão, no couro, na superfície
macia das coisas sem raiva,
sinto vozes amigas, recados
furtivos, mensagens em código.

Os telegramas vieram no vento.
Quanto ao sertão, quanta renúncia atravessaram!
Todo homem sozinho devia fazer uma canoa
e remar para onde os telegramas estão chamando.

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